Irresistível



Eu estava voltando para casa, já era tarde, quase meia-noite, o ônibus estava vago, tinha cinco pessoas, contando o motorista e o cobrador. Eu estava cansada, um pouco sonolenta e para piorar assim que eu tinha pegado o ônibus havia começado a chover, uma chuva fraca, perfeita para embalar o sono. Agitei a mochila no meu colo e fiquei observando as ruas praticamente vazias.
 Era noite e eu estava dormindo quando o som de alguém batendo na minha janela me acordou. Saio da cama esfregando os olhos, tentando afastar o sono, afastei as cortinas e o vi parado bem em frente a minha janela, com um sorriso convencido no rosto. Balancei a cabeça tentando acreditar no que eu estava vendo.
“O que você esta fazendo aqui¿” perguntei sorrindo enquanto abria a janela.
“Eu estava com saudades” ele falou enquanto entrava no quarto.
“Você é louco, passamos o dia juntos” falei rindo.
Ele passou os braços em volta da minha cintura me puxando para ele, em resposta passei meus braços pelo seu pescoço e ele encostou a testa na minha.

“Eu sei... Mas estávamos com seus pais...” ele disse dando pequenos beijos em meus lábios enquanto falava.
“Antes de você ir para o seu quarto eles nos deram um tempo a sós”disse só para provoca-lo.
“Não deu para matar a saudade. Cinco minutos a sós é muito pouco para quem ficou três meses sem os beijos da namorada” olhei para ele com uma expressão do tipo só-sentiu-falta-disso¿ foi quando ele completou “E sem a namorada” ele disse rindo.
“Engraçadinho” falei fazendo biquinho.
“O que eu posso fazer se seus lábios são irresistíveis¿” ele disse um pouco mais serio.
Ele voltou a me beijar, um beijo lento, suave, mas com o passar do tempo foi ficando urgente, as mãos dele apertaram mais a minha cintura na tentativa de me trazer para mais perto dele, como se fosse possível, pois já estávamos colados, minhas mãos pareciam que tinham vida própria enquanto passeavam pelo peito definido dele.
“Você precisa ir.” Eu disse ofegante ao interromper o beijo.
“O que¿ Por que¿” ele perguntou enquanto eu o empurrava em direção a janela.
“Você chegou hoje, vamos ter a semana toda para ficarmos juntos e porque se meu pai passar aqui como é de costume, a boa opinião que meus pais tiveram de você vai para o ralo.” Eu disse quando chegamos a janela.
“Quer dizer que eles gostaram de mim¿” ele disse me puxando pela cintura.
“Sim, eles gostaram de você.” Eu disse dando um pequeno beijo nos lábios dele “Agora volta para o seu quarto, amanhã teremos o dia só para nós dois.” Falei rindo.
“O problema é que eu não resisto a você, sou viciado no seu beijo.” Ele disse fazendo cara de cachorro sem dono, eu ri disso.
E ele foi embora, fechei a janela e fiquei com as costas escoradas na janela pensando nos beijos que trocamos.
Acordei sendo lançada para frente, por causa de uma freada brusca, onde esse cara aprendeu a dirigir¿ Na China¿ Me ajeitei no banco e peguei a minha mochila do chão, olhei pela janela, já estávamos na metade do caminho.
Soltei um suspiro pesado, eu precisava tirar ele da minha cabeça, esquecê-lo, eu devia começar a sair de novo, encontrar alguém... Então a lembrança do toque dos dedos dele na minha pele, os beijos dele voltaram, será que encontrar outra pessoa seria o certo¿ Queria saber a resposta.
Se eu fechasse os olhos agora conseguiria lembrar da expressão no rosto dele o jeito como ele olhou na noite em que brigamos. Nosso namoro de um ano havia acabado na noite da partida dele. E desde aquela noite não consigo parar de pensar nele. Quando nos beijávamos o mundo deixava de existir e éramos apenas nós dois, mas os olhos dele eram hipnotizantes, eu nunca me cansei de ficar observando aqueles olhos verdes. Os defeitos e as qualidades dele e as outras coisas que faziam ele ser quem era o que o tornavam irresistível... Perfeito para mim, mas como sempre eu estraguei tudo.
Uma lagrima teimosa rolou pelo meu rosto, lembrar dele só fazia  a dor que a falta dele me causava aumentar.
O ônibus virou à direita, a próxima parada era a minha. Limpei as lagrimas, respirei fundo, dei o sinal para o ônibus parar e me preparei para descer. Assim que as portas abriram e olhei para fora, eu o vi parado bem na minha frente, ele tinha uma expressão triste, mas mesmo assim deu o sorriso tordo que eu amava tanto.
“O que você esta fazendo aqui¿” perguntei descendo do ônibus.
Ele apenas me puxou de encontro a ele e me beijou e todos os questionamentos que estavam na minha mente sumiram. Só nós dois importava, finalmente eu tinha a resposta para a minha pergunta. Não seria certo achar outra pessoa, nenhum homem me faria sentir o que eu sentia por ele.
“Agora... Respondendo a sua pergunta... Eu vim recuperar a minha vida, antes que fosse tarde de mais e eu a perdesse para sempre.” Ele disse interrompendo o beijo e segurando o meu rosto com as mãos.
“E você conseguiu¿” perguntei.
“Ainda não sei.” Ele disse afastando uma mecha do meu cabelo do meu rosto. “Depende do que você me responder.”
“Responder o que¿” perguntei.
“Me perdoa¿” ele perguntou segurando a minha cintura. “Fui estúpido ao querer te impor a se mudar para Londres, então eu...”
“Não” falei segurando o rosto dele com as mãos. “Não quero que você deixe Londres, sua vida esta lá e... Eu acho que eu consigo ter uma vida em Londres desde que...”
Ainda bem que não tinha ninguém na parada para ver a gente se beijando pela segunda vez.
“Isso quer dizer que posso ter você de volta¿” ele perguntou interrompendo o beijo.
“Acho que sim.” Falei dando um pequeno beijo nele.
E juntos fomos para a minha casa e logo estaríamos voltando para Londres.
(Conto de Uma Escritora Apaixonada)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Aqui vem o Adeus...

Resenha da Semana - A Rainha dos Mortos - Stacey Kade

Aviso...