Momentos #2
Ela
estava voltando, desde aquele trágico dia ela passava a noite naquela cabana.
Ela estacionou o carro bem em frente e entrou. A cabana ainda estava igual,
nada tinha mudado, ainda tinha o cheiro dele, as coisas dele... Ela tirou o
casaco e o pendurou. Não estava sendo um dia fácil, era um dia frio, nublado e
que prometia uma chuva forte. Ela acendeu uma lareira para esquentar o ambiente
e foi para o quarto.
Era
um quarto simples, com uma cama de casal, criado mudo, uma pequena cômoda e
cortinas brancas, tudo muito simples, como ele... Ela se deitou na cama e
adormeceu sem nem ao menos se proteger do frio com um cobertor ou trocar de
roupa.
No
meio da noite ela acordou e ele estava deitado ao lado dela a observando
dormir.
“Oi”
ela disse com uma voz sonolenta.
“Oi”
ele respondeu.
“Há
quanto tempo você esta ai¿” ela perguntou esfregando os olhos.
“Há
pouco tempo” ele respondeu tirando uma mecha de cabelo do rosto dela.
Eles
ficaram lá deitados se olhando sem pressa, eles tinham o tempo como um aliado,
um amigo, ela tinha sentido saudades dele e ele dela, queriam apenas aproveitar
aquele momento em que palavras não são necessárias.
Foi
quando ela tocou o rosto dele que ela percebeu que tinha começado a chover. Ela
olhou para o teto, fechou os olhos e ficou ouvindo o som das gotas de chuva no
telhado. Ele segurou a mão dela e beijou a ponta dos dedos dela, esse gesto
trouxe a atenção dela de volta para ele.
Bem
devagar ele foi levantando e levando ela junto com ele para o lado de fora da
cabana. Quando as primeiras gotas de chuva lhe tocaram a pele, ela se sentiu
feliz pela primeira vez em dias, a dor que lhe torturava o coração se
dispersou, era como se nunca tivesse existido. Ela soltou a mão dele e começou
a girar com os braços abertos, sentindo a sensação de liberdade, liberdade da
dor, da solidão, da culpa...
Ela
foi parando de girar e as únicas coisas que sentia era a grama molhada em seus
pés descalços e a roupa molhada que estava grudada em sua pele e era o tornava
tudo mais real, foi quando ela sentiu ser levantada do solo, ele a segurou em
seus braços, ela passou a mão pelos cabelos dele, a boca dele foi se
aproximando até capturar a dela. E o tempo parou...
Era
o momento deles, não seria justo que acabasse tão rápido esse era o momento que
eles esperavam o momento para aquele beijo... Um beijo de perdão... Um beijo de
saudade... Um beijo de amor.
Mas
o tempo não podia ficar congelado para sempre... Era preciso voltar a
realidade... A vida... E o momento... Acabou...
Ele
a levou de volta para dentro, enquanto ele reacendia o fogo da lareira ela foi
trocar a roupa molhada por um pijama confortável. Sentados em frente à lareira
e ela estando nos braços dele, ela sentia que estava voltando a viver. Mas o
sono traiçoeiro e a fica rondando tentando reclama-la para os seus braços, mas
ela ainda precisava dizer algo a ele.
“Me
perdoa¿” ele pediu deslizando os dedos pelo rosto dele.
“Não
há nada para ser perdoado.” Ele sussurrou para ela.
“Tem
muito a ser perdoado... Me perdoa por aquele dia¿ Se eu... Se eu não tivesse
falado tudo aquilo... Se eu não tivesse mandado...” sussurrou em meio as
lagrimas.
“Shh...
Não quero que fique pensando naquele dia, não foi sua culpa.” Ele disse
interrompendo ela. “Deixe o passado no lugar dele, e viva... Volte a ser aquela
mulher que eu conheci e amei, cheia de vida... Amor... Paixão... Alegria.”
“Se
não fosse aquela...”
“Não
foi culpa sua. Quero que prometa que não vai mais voltar aqui, que não venha
mais me procurar... Quero que você seja feliz.” Ele disse olhando nos olhos
dela.
“Não
sei se consigo.” Ela sussurrou e ele percebeu o medo na voz dela.
“Claro
que consegue... Agora... Me promete isso... Por favor.” Ele pediu.
Ela
ficou olhando para ele, os olhos já cansados Orfeu a estava reclamando, ela
começou a deslizar as pontas dos dedos pelo rosto dele como se tenta-se memorizar
cada detalhe do rosto dele. Até que ela adormeceu.
Quando
ela acordo, acordou assustada, ainda estava na cama, ainda usava as mesmas
roupas com que tinha chegado na cabana. Tudo não passara de um sonho. Ele não
poderia estar ali... Ele nunca mais estaria ali...
Foi por causa de uma briga idiota,
tão idiota que nem lembro mais o motivo... A aliança em medo era a prova da
minha traição... As lagrimas caiam livremente pelo meu rosto, eu tinha matado a
pessoa que eu mais amava... Se não fosse por aquela briga estúpida, ele não
teria saído de casa para esfriar a cabeça e não teria sofrido o acidente que o
matou. Só me restava ficar vindo ao local favorito dele... E cumprir a promessa
feita a ele antes dele morrer no hospital...
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