Não me deixe ir... [Parte II]

Tínhamos saído para passear pelo parque a noite, ele estava nervoso e eu entendia o porquê, havíamos evitado falar da minha partida, como se não falar faria a viajem desaparecer, mas agora com ela tão perto ficava difícil ignorar.
“Você viaja quando?” ele perguntou.
”Daqui a duas semanas” respondi.
Continuamos caminhando de mãos dadas, mas o silencio entre nós dois era agonizante.
“Eu acho que vamos conseguir dar conta de namorar a distancia, não vai ser diferente de agora, você vai continuar viajando a trabalho e eu... Bom... Vou estar um pouco mais distante, mas vamos dar um jeito e...” comecei a falar para acabar com aquele silencio insuportável, mas ele me interrompeu.


“Não vai dar certo.”
“O que?” perguntei confusa.
Paramos de andar e eu soltei a mão dele, eu não conseguia acreditar no que eu estava ouvindo.
“Não vai dar certo... Já é difícil nos encontrarmos com você morando em Londres, imagine estando em outro continente.” enquanto ele falava eu ia me afastando dele com passos pequenos.
“Mas vamos fazer dar certo, apenas...” comecei a dizer, mas parei quando ele me segurou pelos braços.
“Não vamos, você precisa entende isso...” ele parou como se algo o tivesse impedido, havia uma tristeza em seus olhos, “Acabou, temos que aceitar isso... Você tem que aceitar, nós dois... Não vai dar certo, não com uma distancia tão grande, não sei se eu consigo manter um relacionamento assim”.
E ele foi embora, me deixando sozinha, com o coração partido e lagrimas nos olhos.
Então eu estava ali, parada bem em frente a ele. Ele estava ensopado por causa da chuva, olhei para as pessoas em volta, algumas delas tinham um olhar esbugalhado outras cochichavam.
“O que você esta fazendo aqui?” perguntei com a voz mais indiferente que consegui.
“Não podia deixar você ir. Deixar-me falar, por favor.” ele disse quando me viu abrir a boca para falar. “Fui um idiota, eu sei, agora eu sei disso. Tem que acreditar em mim quando digo que só fiz aquilo porque achei que seria o melhor para nós dois. Você sabe o tipo de cara que eu era antes de te conhecer, sempre com uma garota diferente, por ter medo de entrar em um relacionamento serio. Fiquei com  medo de te perder... Essa é a verdade. Te perder para um cara que realmente mereça uma garota especial como você, esse pensamento  me assustou porque eu vi o quanto você é importante para mim...”
Tinha estado tão concentrada no que ele me dizia que não tinha percebido ele se aproximando de mim. Ele segurou meu rosto com as mãos, elas deviam estar geladas, mas senti apenas meu rosto arder em brasa, como senti saudade do toque dele e com muita má vontade tirei as mãos dele do meu rosto.
“Medo de me perder? Qual dessas pessoas tem motivos para ter medo? Aquela que esperou anos pela pessoa certa para entrar em um relacionamento ou aquela que há poucos meses era acostumada ficava com uma pessoa diferente a cada semana que mal lembrava com quem tinha ficado depois? Qual de nós dois tem motivo para ter medo?” a dor pelo que ele tinha feito ficou evidente na minha voz.
Ficamos em silencio por alguns segundos. Eu não sabia o que fazer, eu ainda o amava com todo o meu coração, eu nunca conseguiria mudar isso, ele tinha se tornado uma parte de mim, uma parte que tem feito uma falta tremenda, mas não tinha sido eu que havia acabado com tudo.  Eu precisava sair dali ou eu iria desabar em lagrimas na frente de todas aquelas pessoas.
“Eu estava com medo... Não é uma desculpa, mas é a verdade.” Ele disse me olhando nos olhos.
“E você acha que eu não estava?” falei com a voz fraca.
“Me perdoa, eu te prometo nunca mais te deixar, essas ultimas semanas são a prova que não dá mais pra viver sem você. Você mudou tudo, sinto falta das nossas conversas, de ter abraçar, de ouvir a sua risada e saber que eu sou o motivo de você rir, dos seus beijos... Você se tornou o meu tudo, volta para mim, eu fiz besteira, mas quero fazer tudo certo dessa vez."
Ele foi se aproximando devagar enquanto falava, segurou a minha cintura e encostou a testa na minha. As lagrimas já rolavam pela minha face, ele estava ensopado, mas não liguei, aquele era o homem que eu amava, eu simplesmente fiz o que meu coração desejava desde o momento que o vi molhado bem na minha frente, eu o beijei.
Foi um beijo com gosto de saudade, não sei quanto tempo durou nosso beijo, não queria interrompê-lo, mas era preciso.
“Não me deixe ir... Nunca mais.” Pedi.
“Não vou.” Ele disse.
“Promete?” perguntei.
“Prometo” ele respondeu.
E voltamos a nos beijar.
***
5 Anos Depois

Era o terceiro aniversário de casamento deles. Após ter terminado a faculdade no Brasil ela voltara à Inglaterra para ficar com ele. Casaram-se depois de dois anos de namora, sem boa parte desse namoro a distancia, agora esperavam o nascimento do primeiro filho.

Ele cumpriu com a promessa feita a ela de nunca deixa-la, até o dia em que ele morreu.
(Contos de uma Escritora)

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