Momentos

Acordei com ele levantando da cama, o vi ir em direção à janela e ficar olhando através do vidro. Coloquei o cabelo para trás da orelha, me levantei e fui até ele. Ele estava de costas para mim, passei meus braços em volta de sua cintura, beijei seu ombro e apoiei a cabeça nele. Ele apenas suspirou.
Eu queria que ele soubesse que eu estava aqui por ele, que eu nunca o abandonaria, queria conforta-lo, amenizar a dor, mas ele simplesmente se afastou e foi em direção ao banheiro, não tive coragem para segui-lo.
***
O dia havia começado péssimo, a lembrança dela me rondava desde o minuto em que acordei. Desde aquele dia ela era a minha maldição, sempre me perseguindo, me assombrando.
Definitivamente eu precisava sair de casa, na verdade eu preciso fugir da presença dela. Peguei o carro e sai dirigindo pela cidade sem ter um rumo certo. De pouco adiantou, minha mente decidiu vagar pelo passado.


Estávamos nós dois andando pelo parque, ela usava um vestido florido rosa. Ela estava animada, sorrindo o tempo todo. O sorriso foi o que chamou a minha atenção quando nos conhecemos, nunca vi alguém sorrir tanto. Ela começou a dançar quando chegamos perto de uma dessas bandas que tocam pelo parque, ela rodou e o brilho dos seus olhos fez com que me apaixonasse perdidamente por ela.
Eu estava no centro da cidade agora.
Era a noite do nosso primeiro aniversário de namoro, eu queria fazer uma surpresa para ela, coloquei uma venda em seus olhos e a conduziu até um gazebo que passei o dia arrumando, coloquei pequenas luzes por todo o lugar, do teto as pilastras, nas pilastras também coloquei flores. Tirei a venda dos seus olhos, ela ficou parada, depois se virou para mim com o sorriso que eu mais amava nos lábios, deu dois pulinhos quando viu os músicos tocando. Dançamos a noite toda, ela nunca saiu dos meus braços.
O trânsito estava engarrafado o que ajudou meus pensamentos vagarem mais ainda pelas memórias de nós dois.
Estávamos na praia com alguns amigos jogando futebol, ela esta distraída, chego por de trás e a agarro pela cintura e giro com ela, nós dois rimos, continuamos girando até cair na areia, eu tiro o cabelo do rosto dela. Ela ainda esta rindo, até que fica apenas um pequeno sorriso nos lábios dela, ficamos nos olhando, acaricio a bochecha dela, ela sorri de leve e nos beijamos.
Eu havia chegado finalmente ao meu destino, fui até ela mais uma vez sem nem perceber, era sempre assim eu começa a dirigir sem rumo, tentando ir para algum lugar que não fosse esse, mas sempre acabava aqui, diante do tumulo dela. Hoje eu trouxe um buquê de lírios brancos, era a flor favorita dela. As memórias sempre voltam.
Havia flores no centro de mesa em frente ao sofá em que estávamos deitados vendo filmes na TV.
O sorriso que tomava os lábios dela todas as vezes que lhe dei rosas.

Parei em frente ao tumulo, depositei as flores em um jarro de mármore que tinha ao lado da lápide. Fiquei olhando para tumulo da única mulher que já amei. A única certeza que eu tinha desde a morte dela é que todos os meus dias seriam assombrados pelos momentos que tivemos e que nunca mais iriamos voltar a vivê-los.
(Contos de uma Escritora)

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